A casa do João

Thursday, August 19, 2004

Maturidade...ou falta dela...

Ontem apanhei um susto. Vi uma miúda, possivelmente (ou provavelmente) mais nova que eu, lindissíma, mas quando reparo no dedo anelar dela (não olhei de propósito, ela é que passou a mão à minha frente), essa rapariga era casada. Claro que eu não me ia meter com ela, por feitio (sou demasiado tímido), e também por estar militantemente indisponível para novas situações de relacionamento. Mas até tive dificuldade em adormecer, só conseguia pensar nessa miúda e no facto que podia perfeitamente ser eu a usar aquela aliança de casado. E, nesta noite, tive um assombro de realidade. Se calhar um das qualidades que advogo para mim, seja falsa. Se calhar não sou tão maduro como isso...

Friday, August 06, 2004

Saudade...

Eu não sou facilmente impressionável...aliás, bastante sou bastante estóico quanto ao me impressionar, ainda para mais com filmes de Hollywood. Mas não pude deixar de ter todo o tipo de reacções quando vi a cena do filme "John Q.", onde Denzel Washington se despede do filho, quando pensa que vai morrer para lhe salvar a vida. É que esse texto é quase "ipsis verbis" o que o meu pai me disse, o que me deixou muito arrepiado, confesso. Porque é que viemos equipados com "o chip" da saudade? Porque é que nos dá vontade de ressuscitar os mortos, fazer reaparecer os vivos, que nos deixaram? Porque é que me dá uma vontade tão grande de perguntar ao meu pai se está orgulhoso do seu filho? Porque é que eu precisava de um abraço dele, neste preciso momento? Porque é que eu só o queria ver mais uma vez? Porque é que eu dava a minha vida por isso? Porque é que eu ainda não superei totalmente o trauma? Porque é que eu, muitas vezes, quero ser ele nas minhas acções? Porque é eu acho que não sou merecedor do apelido que ele me deixou? Foda-se...ás vezes há perguntas a mais e respostas a menos...

Queria dizer "Amo-te, Pai" uma última vez, queria dormir no teu colo como fazia quando era mais novo, apesar de achar que se calhar agora ja era maior do que tu..., queria ver como queria ver a avó, ou como queria ver cada vivo que se afastou de mim e que me marcou... Enfim, hoje não sei responder a nada, nem ao mais básico...o que é a saudade?

Luta

Luta

Sento-me à beira da estrada, vagueando o olhar
Entre pedras, ruas, calçadas, vejo armas em tons de fantasia
Vejo o autocarro passar cheio de vidas vazias, tristes
Quando não percebo que mais triste é a minha
Ando, parando, ficando louco, louco de raiva, paixão, saudade
Por fim o cansaço ganha, a batalha perde-se
O sangue jorra, a alma escoa-se
Recebo o abraço da noite, perdida entre beijos de ódio e paixão
Deixo-me ir, perdido perante mais uma batalha terminada
Tudo isto vai acabar um dia, talvez com a loucura, talvez com sangue
Sei que luto, sei que perco, sei que venço, sei que choro, sei que rio
Sei
Não consigo parar de lutar...

João Alves (Janeiro/04)

Visões

Visões
Vejo da janela lágrimas que escorrem
Vejo pernas que tremem, corações que saltam, amores que suam
Vejo este, aquele, antes, depois, sozinho, acompanhado
Vejo o que queria ver em mim
Vejo o que não queria ver
Vejo a tortura, tão macroplanetária, tão micropessoal
Vejo a nuvem que tenta cobrir o Sol
Vejo o Sol, numa fúria rampante olhando por entre nuvens
Vejo o que era,
Vejo o que fui,
Vejo o que podia ser,
Vejo o que queria ser,
E
Vejo que sou mais nuvem do que
Vejo que sou sol

João (Abril/04)

Fogueira

Fogueira
Vejo o fim aproximar-se
Com a queima dos últimos despojos
De Guerra, Paz e Vida
Vejo o consumir dos dias numa imensa fogueira
De vaidades, De vidas, De fogo
Vejo-me morrer perante a vida
Sucumbir perante os últimos pedaços de mim
Vejo o negro como o fim de tanta luz
Oiço o comboio que levará ao fim da existência
Sei que tudo era mais fácil se pedisse clemência interior
E, num daqueles sopros de inferioridade humana, me rendesse
Há tantas coisas que são necessárias
Um ombro, um beijo, um abraço, um olhar
E sei que outros precisam que os dê
Enfim derrotado, dou um último golpe
Em mim, No meu Mundo
E chego à conclusão de Dor:
Não vou deixar de lutar...

João Alves (2004(?))

Poema Afegão com quase 1000 anos...

Podes caminhar na água?
Não fizeste mais do que uma palha
Podes voar no ar?
Não fizeste mais do que um mosquito
Conquista o TEU coração
- E pode ser que te
Tornes alguém

Khawaja Abdullah Ansari (1005-1090)
(poeta afegão)

Amor

Falar de Amor
Falar de amor
É falar de coisas novas
De mundos diferentes,
É ter uma nova vida,
É ser diferente,
É saber como começar
E como acabar.
Ter novas sensações.
É poder viajar,
Viajar em sonhos
Que nunca tinha viajado;
Viajar em mundos
Que nunca tinham sido explorados.
Amor! Sim!
Uma nova vida,
Um novo amor,
Novas relações,
Fim de solidões.
Querer ser amada
Querer amar alguém.
Amor em abundância
Até na distância...
Muitas pessoas já o experimentaram
Muitas pessoas já o viveram
Muitas delas se enganaram
Naquilo que escolheram.
É dificíl encontrar
A sua cara metade
É preciso lutar
Para chegar à verdade...
O amor,
Dá coragem para viver
Dá coragem para lutar
O amor,
Dá coragem para tudo suportar.
O que seriamos nós sem o Amor?
Seriamos vozes sem pudor...

Ana Luísa Ferreira

Esperei por Ti...

Esperei por ti, mil noites... mil dias;
Percorri cem vezes os mesmos caminhos!
Procurei e estudei dez magias...
Na inquieta ânsia de ter um só dos teus carinhos...
Esperei por ti, como uma linda flor espera o sol
Como o mar espera seu rio...
Mas a esperança é humana, e também em noite decaiu!

Era noite escura todo o dia
Todo o céu se tornara repugnante,
Tudo o que a alma fascina perdera a alegria;
Tudo me afligia...caía...
Afundando-me em meu estado errante!
Mas numa noite de luar
De novo vi luz, de novo me ergui...
Vieste! Voltaste! Ah... Estrela de mil cores!

Depois de tantas noites escuras em claro
Tantos sofredores suspiros em vão
Tu voltaste, agora para sempre, meu brilho
Que do céu fazes mar, que fazes alegria de solidão!
Tantos anos sem ti, tiraram-me tanta vida, tanta cor
Mas em ti ainda acho mais beleza
Ah... Amor, vem... Mostra-me de novo o Mundo e toda a Natureza!

David Serrano Sobral

Saturday, July 31, 2004

Outono

Chegado ao Outono da minha vida
Deixo me cair entre as casas
Madeira, chão, vidro, tudo se contempla ao meu passo

E eis que me preparo para a morte
Sem mais um sopro de vida
Tento respirar sem perceber
Que o último suspiro foi dado em forma de lágrima

Saio como um general de uma batalha
Fluindo de honra, perdido de Amor
Sentindo o tic-tac do peito
Sabendo-o derrotado

Tendo amado muitas batalhas,
Assim me despeço dos campos
Para poder voltar a cair e a contemplar
Todos os meus passos.

(João Alves, Julho/04)